Haeckel, Darwin e o Monismo

Ernst Haeckel (1834 - 1919), para quem não sabe, foi o maior divulgador da teoria darwinista na Alemanha. Foi também um grande defensor da eugenia, tornando-se presidente honorário da Sociedade de Higiene Racial, em 1904. Seu livro mais influente foi “O Enigma do Universo”, de 1899, e uma das suas realizações foi a criação da Liga Monista, com a qual elevou a ciência ao nível das divindades.

Em seu livro “O Minismo”, define essa ideologia como “uma sociedade que tem por fim a investigação da natureza e o conhecimento da verdade...”:
“A nossa concepção monista do universo pertence pois a esse grupo de sistemas filosóficos que se designam, sob um outro ponto de vista, com os nomes de mecanistas ou panteístas. Por mais diferentemente que sejam expressas nos sistemas de um Empédocles e de um Lucrécio, de um Spinoza ou de um Bruno, de um Lamarck ou de um Strauss, subsistem no entanto as idéias fundamentais comuns da unidade cósmica, da solidariedade inseparável da força e da substância, do espírito e da matéria ou, como também se pode dizer, de Deus e do mundo” (p. 11).

Nesse mesmo livro, Haeckel faz menção de Darwin como alguém que trouxe à tona a
realidade de uma natureza extremamente sangrenta:
“Estas observações tomam peso quando por meio da nova biologia se entra no conhecimento mais profundo da natureza. Foi sobretudo Darwin que pela sua teoria da seleção, nos abriu os olhos há quarenta e três anos. Sabemos desde então que toda a natureza orgânica do nosso planeta só subsiste com uma luta sem misericórdia de cada qual contra todos. Milhares de animais e de plantas têm de sucumbir diariamente em cada ponto da terra, para que outros indivíduos eleitos possam subsistir e gozar a vida. A própria existência desses privilegiados é uma luta perpétua contra os perigos que os ameaçam por todos os lados. Milhares de germes cheios de esperança morrem a cada minuto. A luta feroz dos interesses da sociedade humana não é mais do que uma fraca imagem do combate incessante e cruel que existe em todo o mundo vivo. A bela ficção da bondade e da providência de Deus na natureza, que nós escutávamos devotamente, quando criança, há sessenta anos, já não tem crentes hoje em dia, pelo menos no mundo instruído que pensa! Foi aniquilada pelo nosso conhecimento profundo das relações recíprocas dos organismos, pelos progressos da ecologia e sociologia, pela parasitologia e a patologia” (p. 51).

Da mesma forma como Copérnico, que deu um golpe mortal no geocentrismo, Darwin, por sua vez, fulminou o antropocentrismo:
“Em todos esses sistemas dualistas e pluralistas de concepção do mundo, deve-se reconhecer por idéia fundamental mais importante o antropomorfismo, a humanização de Deus. O próprio homem, como um ser semelhante a Deus ou derivando dele diretamente, toma um lugar particular no mundo e fica separado do resto da natureza por um abismo profundo. A mais das vezes junta-se-lhe a idéia antropocêntrica, a convicção de que o homem é o ponto central do Universo, o último e supremo fim da criação e que o resto da natureza se fez unicamente para o servir. Na idade média acrescentava-se ainda a esta última proposição a idéia geocêntrica, segundo a qual a terra, como residência do homem, ocupava exatamente o ponto central do sistema planetário, girando o sol, a lua e as estrelas em torno da terra. Assim como Copérnico em 1543 vibrou o golpe mortal no dogma geocêntrico fundado sobre a Bíblia, assim também Darwin em 1859 destruiu o dogma antropocêntrico intimamente conexo com o primeiro” (p. 18).

Heackel também faz menção de Darwin para justificar a existência de uma espécie de árvore genealógica, na qual grupos de seres vivos estão ligados ancestralmente entre si, sendo frutos de um processo rígido e contínuo, há milhões de anos:
"Acima de todas as outras conquistas do espírito humano, coloca-se a nossa moderna teoria da evolução. Pressentida já há mais de um século por Goethe, mas formulada mais satisfatoriamente no começo deste século por Lamarck, ela foi finalmente estabelecida por Carlos Darwin há quarenta anos. A sua teoria da seleção preencheu a lacuna que Lamarck deixara aberta na sua teoria da influência recíproca da hereditariedade e da adaptação. Sabemos agora com certeza que o mundo orgânico se desenvolveu sobre a terra de uma maneira contínua, segundo “leis de bronze eternas” como as que Lyell demonstrara desde 1830 para o globo inorgânico. Sabemos que as diferentes espécies de animais e de plantas tão inumeráveis, que habitaram o nosso planeta no decorrer de milhões de anos, não são mais do que ramúsculos de um tronco único. Sabemos que o próprio gênero humano não representa mais do que um dos ramúsculos mais novos do ramo dos vertebrados” (p. 28).

Fonte:
Ernest Haeckel: “O Monismo”. Tradução: Fonseca Cardoso. Livraria Chardon.

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