A carta em que Darwin não nega Deus

Recentemente foi alardeado pela imprensa em todo mundo o leilão de uma Carta de Charles Darwin, na qual ele teria supostamente "negado a existência de Deus".

Supostamente?

Bem. Segundo a "Revista Época", cujo jornalista parece ser um tendencioso ateu, diz em sua manchete:  


Manchete da "Revista Época", em 19/09/2015


No entanto, lendo a notícia, logo se percebe que não foi exatamente isso que o naturalista escreveu:

"Na carta, ele finalmente respondia uma pergunta que vinham lhe fazendo desde então: “Eu não acredito na Bíblia como uma revelação divina”, escreveu. “E, portanto, também não acredito em Jesus como o filho de Deus”. Essas poucas linhas são valiosas."

Talvez o jornalista da  "Época" não saiba, mas o fato de alguém duvidar da Bíblia e de não acreditar na divindade de Jesus, isso em nada diz que esta pessoa esteja manifestando sua descrença em Deus.  Os judeus praticantes, por exemplo, não seguem a doutrina da deidade de Cristo, no entanto, acreditam piamente em Iavé (Deus). 

Se formos, porém, numa fonte, digamos, mais isenta, veremos o que de fato Darwin quis dizer. Notamos isso na manchete do jornal espanhol "El Mundo", em que se lê:


Manchete do jornal "El Mundo", de 07/09/2015


Todo mundo sabe que Darwin manifestou um certo agnosticismo, não como resultado de suas teorias, mas, ao que tudo indica, por decepção com a morte prematura de sua filha. 

Aliás, Darwin via a crença em Deus como um traço de superioridade da razão humana, que diferenciava o homem dos animais inferiores. Vemos isso em seu livro "A Origem do Homem": "A fé em Deus tem sido muitas vezes considerada não só como a maior, mas como a mais completa distinção entre homem e animais inferiores. Contudo, conforme temos visto, é impossível sustentar que esta crença seja inata ou instintiva no homem. Por outro lado, a fé num agente espiritual onipresente parece universal e deriva, aparentemente, de um considerável progresso da razão humana e de um ainda maior avanço das suas faculdades de imaginação, curiosidade e maravilhamento" (Hemus, 1974, p. 704).

Darwin, portanto, nunca foi ateu. Pode-se aventar, no máximo um agnosticismo titubeante, porém não fruto de suas laboriosas pesquisas, mas - preponderantemente - pelos inúmeros percalços porque passou na vida. 

É isso!


Carta de Darwin, orçada entre US$70 mil e US$90 mil