Evolução: "subindo para cima"

Segundo o Dicionário de Língua Portuguesa Michaellis, “evolução” significa:

1. Ato ou efeito de evoluir.
2. Progresso paulatino e contínuo a partir de um estado inferior ou simples para um superior, mais complexo ou melhor.
3. Transformação lenta, em leves mudanças sucessivas.
4. Sociologia: Progresso ou melhoramento social, político e econômico, gradual e relativamente pacífico, em contraste à mudança violenta, à revolução.
5. Biologia: Processo pelo qual, através de uma série de alterações gradativas, a partir de um estado rudimentar, todo organismo vivo ou grupo de organismos adquiriu os caracteres mofológicos ou fisiológicos que o distinguem.
6. Qualquer movimento destinado a efetuar um novo arranjo, pela passagem de uma posição a outra, dos componentes de um grupo (dançarinos, patinadores etc.).
7. Botânica: Desenvolvimento, crescimento sucessivo dos órgãos vegetais.

Já de acordo com o Dicionário de Filosofia de J. Ferrater Mora (Edições Loyola, 2001, p. 945, 946), o termo “evolução” vem do latim
evolutio (do verbo evol
vo): “designa a ação e o efeito de desenrolar-se, desdobrar-se, desenvolver-se algo. 'Evo­lução' é um dos termos em uma numerosa família de vocábulos em cuja raiz encontra-se a ideia ou a imagem de rodar, correr, dar voltas: 'involução', 'devolução', 'circunvolução' e outros similares. A ideia ou imagem que 'evolução' suscita é a do desenrolar, do desenvolvi­mento de algo que estava enrolado, dobrado ou envolvido. Uma vez desenvolvida ou desdobrada, uma realidade pode reenvolver-se ou redobrar-se.” E, mais adiante: “Em vista de tudo isso, cabe concluir que é melhor qualificar os distintos significados de 'evolução' (ou de termos cujo significado é próximo do de 'evolução'). Pode-se falar então de evolução em sentido teológico, metafísico, histórico, biológico etc., ou, como indica­mos anteriormente, de evolução em sentido "concei­tuai". Todavia, separar excessivamente os significados levaria a esquecer que há elementos comuns no conceito de evolução. Esses elementos comuns são, inevitavel­mente, de caráter muito geral.”

Darwinianamente, isto é, da forma como fora concebida por Charles Darwin, a palavra “evolução” também mentém este mesmo sentido de “progressão contínua” ou, pleonasticamente falando: “subida para cima”. Isso ele deixa bem claro em seus livros, como, por exemplo:

Crer que o homem, em sua origem, era civilizado e que depois em tan­tas regiões sofreu uma extrema degradação, significa fazer-se uma ideia miseramente baixa da natureza. Aparentemente, é mais verdadeira e mais clara a ideia que diz que o progresso tem sido mais geral do que o retrocesso segundo o qual o ho­mem, ainda que com passos lentos e descontínuos, emergiu de uma condição baixa para um nível altíssimo, ainda conservado, na consciência, na moral, na religião” (“A Origem do Homem”. Hemus Editora, 1974, p. 174).

É isso!

Dos cientistas e suas hipocrisias...

Não duvido que o ganhador de um prêmio Nobel seja realmente mereceder dessa insígnia; todavia é preciso que se distinga o cientista e sua descoberta do homem e seu caráter.

No prefácio do livro “A expressão das emoções no homem e nos animais” (Martins Fontes, 2009) de Charles Darwin, o ganhador do prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina de 1973, Konrad Lorenz, num típico gesto de fervor ideológico tenta isentar Darwin de ter superestimado sua teoria. Diz ele:

Quando Jacques Loeb descobriu o princípio do tropismo, chegou a acreditar, e esperar, que todo comportamento humano e animal pudesse ser explicado com base na interação dos tropismos. Quando I. P. Pavlov descobriu a resposta condicionada, pensava aproxi­madamente o mesmo de seu princípio explicativo. Os escritos de Sigmund Freud estão cheios de generalizações semelhantes.
[...]
Entretanto, o maior dos descobridores no campo da biolo­gia não cometeu esse erro: quando Charles Darwin descobriu a seleção natural — o princípio explicativo que estaria destinado a mudar nossa concepção do homem e do mundo mais do que qualquer outro antes dele — decididamente não superesti­mou a quantidade de fenômenos que poderiam ser explicados por seu intermédio. Se errou, foi ao não completar sua teoria.”

E, numa clara tentativa de eximir Darwin da pecha do darwinismo social, bajula-o:

Por essa razão, incomoda-me profundamente o termo "darwinismo". É uma calúnia injusta que acusa o grande homem de um pecado que, mais do que qualquer outro, ele abominaria.

Os biólogos modernos são muito mais "darwinistas" do que Darwin, e com razão.”

Agora, vejam só o que afirmou este biólogo de grande reputação, no ano de 1940, na Alemanha, quando os campos de extermínio já estavam funcionando a todo “vapor”:

Para preservar a raça, seria necessário estar atento à eliminação, ainda mais severa do que é hoje, dos seres moralmente inferiores [...] Devemos – e temos o direito de – confiar nos melhores dentre nós e encarregá-los de efetuar a seleção que determinará a prosperidade ou o aniquilamento do nosso povo” (citado por Albert Jacquard, em “Elogio da Diferença”, Martins Fontes, 1988, p. 90, 91).

Que maravilha, um darwinista social isentando outro de não ser darwinista!

Qual, afinal, a diferença entre um hipócrita e um ator?

Bom, deixemos esta questão para a etimologia grega. De resto, permaneçamos atentos às fingidas manifestações de virtudes...

É isso!

Eu li isso...

"Como definir o acaso que é um ingrediente inevitável de tudo o que nos surge como desordem? O matemático Chaïtin definiu-o como uma incompressibilidade algoritma, ou seja, como irredutibilidade e indedutibilidade, a partir de um algoritmo, de uma seqüência de números ou de acontecimentos. Contudo, o mesmo Chaïtin dizia que não há jeito de provar uma tal incompressibilidade; dito de outro modo, não podemos provar se aquilo que nos parece acaso não é devido à ignorância".

Edgar Morin. "Ciência com Cosnsciência". Bertrand Brasil, p. 178.

É isso!

Como se converter ao darwinismo ((rs))

Em uma de suas cartas a Alfred Wallace, de 6 de abril de 1859 (publicada em português pela Editora Unesp), Darwin muito otimista (o "A Origem das Espécies" fora publicado neste referido ano) anseia por converter muita gente da ciência à sua doutrina. Escreve ele:

Não sei se cheguei a dizer-vos que Hooker, que é nosso melhor Botânico britânico e tal­vez o melhor do mundo, está plenamente convertido, e pretende agora divulgar de imediato sua profissão de Fé; e estou aguardando, dia após dia, o recebimento das provas.— Huxley mudou e (agora) acredita na mutação das espécies: se está convertido a nós, não sei muito bem.— Haveremos de viver para ver convertidos todos os homens mais jovens. Meu vizinho, J. Lubbock, um excelente na­turalista, é um convertido entusiástico.

Diante disso, andei pensando com botões sobre quais passos seriam realmente necessários para que alguém embrenhe-se de corpo e alma no maravilhoso mundo de Darwin, e assim convertido poder levar adiante a preciosa semente da "evolução". Ei-los:

1 - Confessar publicamente que Darwin é o maior cientista de todos os tempos, aquele que concebeu ao mundo a idéia mais incrível, mais espetacular e mais importante de toda a história da humanidade: a Seleção Natural.

2 - Crer de coração que a Seleção Natural guiou todo o processo evolutivo desde os primórdios da vida, conduzindo uma abjeta ameba ao ápice da grandiosidade: o homem.

3 - Acreditar que mutações aleatórias, acumuladas durante milhões de anos, foram capazes de produzir a enorme variedade de seres vivos ao redor do planeta.

4 - Não duvidar jamais que os mecanismos evolutivos, todos eles trabalhando cega e gradualmente, foram suficientes para gerar máquinas biológicas, como os cílios, o flagelo, a coagulação do sangue, o sistema imunológico, o olho entre outras.

5 - Ter como verdadeiro que a macroevolução explica direitinho a diferença entre uma sardinha e um homem, e que esta intensa mudança evolutiva pode ser perfeitamente explicada como sendo o resultado de alterações microevolutivas.

6 - Não hesitar em crer na perfeita inter-relação entre vírus, bactérias, plantas e animais.

7 - Nunca por em por em dúvida que a abiogênese aconteceu uma vez durante a história da vida.

8 - Julgar como correto que peixes, répteis, aves e mamíferos tiveram origem ancestral comum.

9 - Em hipótese alguma admitir que outras teorias científicas ofereçam alternativas ao conceito de evolução.

10 - Por fim, jamais confessar sequer uma falha na Teoria da Evolução.

Seguindo portanto esses passos, você finalmente estará apto para militar e defender a fé darwinista, como alguém verdadeiramente convertido aos ideais de Darwin. ((rs))

É isso!

Antes de Dawkins e Depois de Darwin

Do "Relojoeiro Cego", de Richard Dawkins:

"Um ateu, anteriormente a Darwin, poderia dizer, seguindo Hume: 'Não tenho explicação para a complexa concepção biológica'. Do o que sei é que Deus não é uma boa explicação, portanto, temos de aguardar e ter esperança de que alguém apareça com uma melhor. Não posso deixar de sentir que uma tal posição, embora logicamente válida, deixaria uma sensação de insatisfação e que, ainda que o ateísmo pudesse ser logicamente defensável antes de Darwin,
só Darwin tornou possível ser-se um ateu intelectualmente realizado."

É isso!

O macaco segundo o espiritismo

Trecho do livro "A Gênese", de Allan Kardec:

"
E bem poss
ível que corpos de macaco tenham servido de vestidura aos primeiros Espíritos humanos, forçosamente pouco adiantados, que viessem encarnar na Terra, sendo essa a vestidura mais apropriada às suas necessidades e mais adequadas ao exercício de suas faculdades. Em vez de se fazer para o Espírito um invólucro especial, ele teria achado um já pronto. Vestiu-se, então da pele do macaco, sem deixar de ser Espírito humano, como o Homem não raro se reveste da pele de certos animais, sem deixar de ser homem."

É isso!

Religião e doutrinação infantil


Ferramentas para a conquista do coração infantil...

É isso!

"Simiofilia"

"Simiofilia" (símio + philos) não consta no “Aurélio, não aparece no moderno “Houaiss” nem faz parte do dicionário inFormal on-line. Trata-se de um neologismo que eu mesmo inventei e com o qual faço menção ligeiramente da “tara ideológica” que certa vertente darwinista nutre pelas muitas variedades de macacos.

Sim, não há a menor dúvida de que, entre todos os bichos, o macaco é o que morfologicamente mais se assemelha ao homem. Mas, desde quando semelhança morfológica é indício seguro de ancestralidade comum ?

- Ah, alguém poderia indagar: - E a semelhança genética, não conta?

Conta, mas...

Waht does it mean to be 75% pumpkin?
O que significa ser 75% igual a uma abóbora?

Ou, como diria o professor Steven Jones: o fato de uma banana apresentar 50% de genes idênticos aos humanos faz dela 50% humanas?

Ademais, já faz tempo que a velha ladainha de 99% de semelhança genômica entre chimpanzés e humanos se transformou num belíssimo mito (“
The Myth of 1%”).

O que resta à galera de Darwin?

Resta a “simiofilia”, como se pode notar em notícias como esta:

“Eles também alegam que os chimpanzés dividem 99,4% dos genes humanos e fazem parte da família biológica dos “homos”, que poderiam ser considerados “pessoas”.

É isso!

"Salve a nossa Terra. Vamos nos tornar verdes"

Fonte das imagens:
CNET NEWS

Foi realizado, nos Estados Unidos, um concurso promovido pela revista "Science" e pela Fundação Nacional da Ciência, com o intuito de eleger as melhores fotos sobre ciência. A grande ganhadora foi a foto batizada de "Save our Earth. Let's Go Green" ("Salve a nossa Terra. Vamos nos tornar verdes") – a primeira da relação a seguir:


É isso!

Você já leu "A Origem das Espécies" de Darwin?

A adesão cega ao naturalista inglês pode ser comparada sem nenhum exagero ao fanatismo de um religioso pelo seu líder espiritual. A par disto, imagine o seguinte diálogo:

Quem é a pessoa mais importante no mundo depois de seu pai e sua mãe?
- Charles Darwin!
E a segunda?
- Olha, se ele estivesse vivo, seria aquela a quem ele indicasse, mas, como ele já se foi, fico com Richard Dawkins, que melhor o representa hoje!
((rs))

Pois bem. Uma das características que distingue um simples admirador de um fanático, refere-se à completa ausência de conhecimento que se tem acerca daquele a quem tanto idolatra. "Ele é lindo e pronto!" ((rs))

O caso da "galerinha levada de Darwin" é bem típico. Para eles Darwin foi o maior vulto histórico; um cientista revolucionário; um pensador nato; um exemplo para a humanidade, blá blá blá caixa de fósforo...

Todavia, se você perguntar a um desses alienados fãs do naturalista inglês se já leu um de seus livros, logo o verá titubear. A pesquisa, a seguir, extraída de uma comunidade do Orkut, dedicada ao "pai da evolução" (Wallace foi apenas o "titio da evolução"), atesta um pouco disso:


Você já leu "A Origem das Espécies" de Darwin?

SIM - 39%

NÃO - 36%

COMECEI, MAS NÃO TERMINEI - 21%

NÃO QUERO LER. NÃO PRECISO - 2%

Assim, somando os que não leram com aqueles que ousaram ler mas desistiram, temos a cifra de 57%. Ou seja, mais de 50% dos que defendem a crença no darwinismo desconhecem a principal obra de seu grande "líder espiritual". ((rs))

Que beleza!

É isso!

Eu li isso...

"Você informa a seus leitores, com o nítido desmentido — "talvez por ingenuidade" — que tendeu para uma visão menos cínica da natureza humana do que a de Dostoievski. "Será que realmente preci samos de policiamento — seja feito por Deus ou por nós mesmos — para que não nos comportemos de modo egoísta e criminoso? Quero muito acreditar que não preciso dessa vigilância — nem você, caro leitor."

Parece que há um mal-entendido entre você e o grande escritor, talvez em decorrência de sua interpretação equivocada da sua obra; talvez por você ter comparado antecedentes com experiência de vida. Você nunca passou uma temporada na prisão. Você caminhou, em jornada sem acidentes, do ensino elementar para a escola secundária particular, até Oxford, onde foi residente em boa parte de sua carreira e onde você consolidou sua visão essencialmente otimista do mundo.

Dostoievski começou a escrever
Os irmãos Karamazov em 1878, aos 57 anos de idade. Ainda em criança, sofreu a perda de seus pais (acredita-se que o pai foi assassinado) e na casa dos 30 esteve preso por cinco anos, incluindo vários meses no corredor da morte e quatro anos em um campo de trabalhos forçados. Era epiléptico, e sua saúde mental sofreu por ter sido submetido a uma execução simulada, ficando diante de um pelotão de fuzilamento para ser liberado só no último instante. Seu crime foi pertencer a uma sociedade secreta de cunho liberal.

Dostoievski teve experiência direta com o sofrimento e a tragédia em altas doses: um campo de trabalhos russo, em meados do século
XIX, superlotado, onde faltavam alimento e higiene e abundavam piolhos e doenças. Já na casa dos 40 tentava entender o sentido de toda aquela perversidade e violência, à luz da influência das ideias que vinham do Ocidente, que incluíam o Utilitarismo inglês de Bentham e Stuart Mill, o Marxismo Utópico e um conjunto de ideias que você teria aprovado — Darwinismo Social. Dostoievski também lutava para compreender como o cristianismo podia resistir ao novo Niilismo Russo (que rejeitava todas as formas de religião, moralidade e política). Os conflitos e tensões entre essas ideologias rivais e a religião são, com efeito, dramatizadas em detalhes em seus grandes romances".

Do livro:

"O Anjo de Darwin: uma resposta seráfica a Deus um Delírio". John Cornwell. Imago Editora. São Paulo, 2007, p. 64.

É isso!

"O maior espetáculo da terra": o grande circo de Dawkins! ((rs))


"The Greatest Show on Earth"

Mais claro que a luz no pino do meio-dia!
Mais extraordinário que o cálice sagrado!
Mais grandioso que a ida do homem à lua!
Mais espetacular que o Cirque du Soleil!
Mais belo que os deuses gregos!
Mais fantástico que o nascer do sol!
Mais emocionante que o gol da vitória!
Mais maravilhoso que os contos dos irmãos Grimm!
Mais encantador que Mona Lisa...

Apresento-lhe: "O Maior Espetáculo da Terra". Estrelando o maior humorista de todos os tempos, o ilustríssimo Sir Richard Dawkins: ((rs))

É isso!

Minha impressão sobre "A expressão" de Darwin

Acabei de ler "A expressão das emoções no homem e nos animais", de Charles Darwin!
Se não fora a época, diria que li um trabalho de biologia de um aluno do Ensino Médio da escola pública brasileira. Embora da profundidade quase de um pires, o livro destaca-se por ser de leitura menos maçante entre outros do naturalista inglês, como o mais famoso: "
A Origem das Espécies". Em todo livro Darwin busca "provar" que tanto as emoções do homem quanto os sentimentos dos animais são óbvios resultados da evolução ao longo dos tempos. Raiva, ódio, bom humor, alegria, desdém, culpa, orgulho, medo, vergonha, timidez, amor etc. são características que se encontram entre todos os povos, e isso em si já serve como demonstração da ancestralidade comum universal. São abundantes as analogias entre as emoções humanas com aquelas supostamente observadas entre as muitas espécies de macacos. Obviamente a idéia é tentar realçar a "semelhança evolutiva" entre ambas as espécies. O macaco, para Darwin, é o nosso parente mais próximo, e as emoções que se vêem nele atestam esta "verdade". Todavia, parece que as crianças transparecem mais esta similaridade, especialmente as "crianças selvagens":

"
Vemos assim que a protrus
ão dos lábios, especialmente em crianças pequenas, é uma manifestação característica de amuo na maior parte do mundo. Esse movimento parece resultar da permanência, principalmente durante a mocidade, de um há­bito primevo, ou de ocasional retorno a ele. Orangotangos e chimpanzés jovens protraem os lábios num grau extraordiná­rio, como descrevemos em capítulo anterior, quando estão des­contentes, um tanto irritados, ou amuados; também quando es­tão surpresos, um pouco assustados e mesmo quando sentem certa satisfação. Aparentemente, sua boca se protrai com a fi­nalidade de produzir os diversos sons correspondentes a cada um desses estados de espírito; e sua forma, como pude observar no chimpanzé, difere um pouco no momento de emitir os gri­tos de prazer ou de raiva. Tão logo esses animais ficam furio­sos, a forma de suas bocas se modifica inteiramente, e os dentes são expostos. Dizem que o orangotango adulto, quando ferido, emite "um grito singular, que se inicia com notas agudas que vão se transformando em ronco grave. Enquanto solta as notas agudas, ele protrai os lábios em forma de funil, mas nas notas graves deixa a boca bem aberta". No gorila, aparentemente o lábio inferior é capaz de se alongar muito. Portanto, se nossos ancestrais semi-humanos protraíam os lábios quando amuados ou um pouco irritados — da mesma maneira como o fazem os atuais macacos antropoides —, não é um fato anômalo, ainda que curioso, nossas crianças exibirem resquícios da mesma ex­pressão quando no mesmo estado de espírito, juntamente com certa tendência a produzir ruído. Pois não é de forma alguma estranho os animais conservarem, mais ou menos perfeitamen­te, na tenra infância, para mais adiante perderem, as caracterís­ticas nativas de seus ancestrais adultos, e que ainda são conser­vadas por espécies distintas, seus parentes próximos.
Também não é excepcional o fato de as crianças selvagens terem mais tendência a protrair os lábios quando amuadas do que as crianças europeias civilizadas; pois a essência da selvageria parece consistir na manutenção de uma característica pri­mitiva, o que também se aplica, ocasionalmente, a peculiarida­des físicas" (p. 199).
Uma das muitas ilustrações do livro de Darwin

As passagens sobre os "diferentes tipos de raças humanas" florescem toda a obra: "Entretanto, se observarmos as diferentes raças do homem, esses sinais não são tão universalmente empregados quanto eu esperaria" (p. 235). / "A expressão de tristeza, gerada pela contração dos músculos da tristeza, de forma alguma se restringe aos europeus, mas parece ser comum a todas as raças humanas" (p. 160). / "Pelas respostas que recebi dos questionários que enviei, homens de todas as raças franzem o semblante quando estão por alguma razão perplexos" (p. 190). / "Entretanto, não é de forma alguma improvável que essa expressão animalesca seja mais comum entre as raças selvagens do que entre as civilizadas" (p. 214). E por aí vai...

É claro, em se tratando de Darwin, não poderia faltar aquela pitoresca pérola, com a qual encerro essas minhas ligeiras impressões:

"
O dr. Maudsley, depois de fornecer uma série de detalhes sobre traços animalescos nos idiotas, indaga se eles não se deveriam ao reaparecimento de instintos primitivos — "um apagado eco de um passado distante, atestando um parentesco que o homem já quase deixou para trás". Ele acrescenta que como todo cérebro humano passa, ao longo de seu desenvolvimento, pelos mesmos estágios dos vertebrados inferiores, e como o cérebro de um idiota é retardado, podemos presumir que ele "manifestará suas funções mais primitivas e nenhuma função superior". O dr. Maudsley acredita que essa mesma hipótese pode ser estendida ao cérebro em estado de degeneração de alguns pacientes loucos. E pergunta de onde vêm "o rosnado furioso, a disposição violenta, a linguagem obscena, os uivos selvagens e os hábitos agressivos manifestados por alguns dos loucos? Por que deveria um homem, privado de sua razão, tornar-se de caráter tão brutal, como é o caso de alguns, a não ser que a natureza brutal esteja nele próprio?
" (p. 208).

É isso!

Seleção Natural vs Desenho


Ou:
A "Seleção Intencional" de Darwin

Citando o livro “What is darwinism?”, de Charles Hodge (Princeton, 1870), o cientista espanhol Emilio de Cervantes discorre (“La ambigüedad, característica fundamental en Darwin.Ejemplo: significado de la palabra Natural") sobre o caráter ambiguo da Seleção Natural de Charles Darwin. Segundo ele, o naturalista inglês fez uso deste termo pelo menos com nove ou dez significados diferentes. Hodge, porém, destaca apenas dois sentidos para Seleção Natural, os quais sintetizam muito bem os ideais de Darwin ao difundir tal conceito:

1 – “Natural” como antagônico à “artificial”, ou seja, um tipo de “seleção” realizada por intermédio da ação humana com o intuito de se alcançar um determinado objetivo.

2 – “Natural” como oposto a “sobrenatural”, isto é, algo originado a partir de um poder superior agindo na natureza.

Desta forma, resume Hodge: “
Al fazer uso da expressão “seleção natural”, o Sr. Darwin tenciona excluir a possibilidade de um desenho ou de causas finais.” E, também assim, sintetiza Cervantes: “Por meio da construção denominada “Seleção Natural”, o objetivo dos textos de Darwin consiste em excluir desenhos e causas finais de sua descrição da natureza. Ao menos é assim para uma mente sincera do século XIX como à de Charles Hodge”.

Bem. Foi seguindo por este atalho, que me embrenhei em Darwin a fim de encontrar alguma pista que realmente pudesse confirmar tais suspeitas. E, não foi assim tão difícil. Se não, vejamos nas próprias palavras deste naturalista como este confronto (“natural” vs “sobrenatural” ou “aleatoriedade vs propósito”) se faz tão nítido quanto a luz no pino do meio dia. Note-se, nos textos a seguir, como Charles Darwin realça esta “oposição”, demonstrando assim seu objetivo ideológico em afirmar sua filosófica posição naturalista.

1 - Do livro:
“A expressão das emoções no homem e nos animais”. Charles Darwin. Companhia da Letras. São Paulo, 2009.

“A crença de que o rubor foi
especialmente designado pelo Criador opõe-se à teoria geral da evolução, hoje em dia ampla mente aceita; mas não é minha tarefa aqui discutir a questão geral. Aqueles que acreditam no desígnio terão dificuldades para explicar por que a timidez é a mais comum e eficiente das cau sas de rubor, se faz sofrer quem enrubesce e constrange quem observa, sem ter a menor utilidade para qualquer um dos dois. Também terão dificuldades para explicar por que negros e ou tras raças de pele escura enrubescem, já que neles a mudança de cor na pele é quase ou totalmente invisível (p. 287).

2 - Do livro:
"A Origem das Espécies, no meio da seleção natural ou a luta pela existência na natureza". Charles Darwin. Tradução do doutor Mesquita Paul. LELLO & IRMÃO – EDITORES. Porto, 2003.

"Ora, posto que numerosos pontos sejam ainda muito obscuros, se bem que devem ficar, sem dúvida, inexplicáveis por bastante tempo ainda, vejo-me, contudo, após os estudos mais profundos e uma apreciação fria e imparcial, forçado a sustentar que a opinião defendida até a pouco pela maior parte dos naturalistas, opinião que eu próprio partilhei, isto é, que cada espécie foi objeto de uma criação independente, é absolutamente errônea. Estou plenamente convencido que as espécies não são imutáveis; estou convencido que as espécies que pertencem ao que chamamos o mesmo gênero derivam diretamente de qualquer outra espécie ordinariamente distinta, do mesmo modo que as variedades reconhecidas de uma espécie, seja qual for, derivam diretamente desta espécie; estou convencido, enfim, que a seleção natural tem desempenhado o principal papel na modificação das espécies, posto que outros agentes tenham nela partilhado igualmente" (p. 18).

"A seleção natural opera apenas pela conservação e acumulação de pequenas modificações hereditárias de que cada uma é proveitosa ao indivíduo conservado; ora, da mesma forma que a geologia moderna, quando se trata de explicar a escavação de um profundo vale, renuncia a invocar a hipótese de uma só grande vaga diluviana, da mesma forma a seleção natural tende a fazer desaparecer a crença na criação contínua de novos seres organizados, ou nas grandes e inopinadas modificações da sua estrutura" (p. 110).

"Quem acredita nos atos numerosos e separados da criação, pode dizer que, nos casos desta natureza, aprouve ao Criador substituir um indivíduo pertencendo a um tipo por um outro pertencendo a um outro tipo, o que me parece ser o enunciado do mesmo fato numa forma aperfeiçoada. Quem, pelo contrário, crê na luta pela existência ou no princípio da seleção natural, reconhece que cada ser organizado tenta constantemente multiplicar-se em número; sabe-se, além disso, que se um ser varia por pouco que seja nos hábitos e na conformação, e obtém assim uma vantagem sobre qualquer outro habitante da mesma localidade, se apodera do lugar deste último, por mais diferente que seja do que ele ocupava primeiramente.
Também se não experimenta surpresa alguma vendo gansos e fragatas com os pés palmados, posto que estas aves habitam a terra e se coloquem raramente sobre a água; codornizões de dedos alongados vivendo nos prados em lugar de viver nas lagoas; picanços habitando lugares desprovidos de árvores; e, enfim, melros ou himenópteros mergulhadores e alcatrazes tendo os costumes dos pingüins" (p. 197).

"A comparação entre o olho e o telescópio apresenta-se naturalmente ao espírito. Sabemos que este último instrumento foi aperfeiçoado pelos esforços contínuos e prolongados das mais altas inteligências humanas, e concluímos daí naturalmente que o olho se formou por um processo análogo. Será esta conclusão presunçosa? Temos o direito de supor que o Criador põe em jogo forças inteligentes análogas às do homem? Se quisermos comparar o olho a um instrumento óptico, devemos imaginar uma camada espessa de um tecido transparente, embebido de líquido, em contato com um nervo sensível à luz; devemos supor também que as diferentes partes desta camada mudam constantemente e lentamente de densidade, de forma a separar-se em zonas, tendo uma espessura e uma densidade diferentes, desigualmente distantes entre si e mudando gradualmente de forma à superfície. Devemos supor, além disso, que uma força representada pela seleção natural, ou a persistência do mais apto, está constantemente espiando todas as ligeiras modificações que afetem camadas transparentes, para conservar todas as que, em diversas circunstâncias, em todos os sentidos e em todos os graus, tendem a permitir a perfeição de uma imagem mais distinta. Devemos supor que cada novo estado do instrumento se multiplica por milhões, para se conservar até que se produza um melhor que substitua e anule os precedentes. Nos corpos vivos, a variação causa as ligeiras modificações, a reprodução multiplicas quase ao infinito, e a seleção natural apodera-se de cada melhoramento com uma segurança infalível. Admitamos, enfim, que esta marcha se continua durante milhões de anos e se aplica durante cada um a milhões de indivíduos; poderemos nós admitir então que se possa ter formado assim um instrumento óptico vivo, tão superior a um aparelho de vidro como as obras do Criador são superiores às do homem?" (p. 200-201).

"As observações precedentes levam-me a dizer algumas palavras sobre o protesto que fizeram alguns naturalistas contra a doutrina utilitária, após a qual cada particularidade de conformação se produziu para vantagem do seu possuidor. Sustentam que muitas conformações foram criadas por simples amor da beleza, para encantar os olhos do homem ou os do Criador (este último ponto, contudo, está fora da discussão científica), ou por mero amor da variedade, ponto que já discutimos. Se estas doutrinas fossem fundadas, seriam absolutamente fatais à minha teoria" (218).

"Este sistema é incontestavelmente engenhoso e útil. Mas muitos naturalistas julgam que o sistema natural comporta alguma coisa mais; crêem que contêm a revelação do plano do Criador; mas a menos que se não precise se esta expressão significa por si mesma a ordem no tempo ou no espaço, ou ambas, ou enfim o que se entende por plano de criação, parece-me que isto nada acrescenta aos nossos conhecimentos" (p. 474).

"Não há tentativa mais vã do que querer explicar esta semelhança do tipo entre os membros de uma classe pela utilidade ou pela doutrina das causas finais. Owen admitiu expressamente a impossibilidade de chegar a este ponto no seu interessante trabalho sobre a Natureza dos Membros. Na hipótese da criação independente de cada ser, podemos apenas notar este fato, juntando que aprouve ao Criador construir todos os animais e todas as plantas de cada grande classe sobre um plano uniforme; mas não é explicação científica. A explicação apresenta-se, pelo contrário, por si mesma, por assim dizer, na teoria da seleção das modificações ligeiras e sucessivas, sendo cada modificação de qualquer maneira vantajosa à forma modificada e afetando muitas vezes por correlação outras partes do organismo. Nas alterações desta natureza, não poderia haver mais que uma fraca tendência a modificar o plano primitivo, e nenhuma em transpor as partes" (p. 497).

3 - Do livro:
"A origem do homem e a seleçao sexual". Charles Darwin. Tradução: Attílio Cancian e EduardoNunes Fonseca. HEMUS — LIVRARIA EDITORA LTDA. São Paulo, 1974.

Seja-me permitido dizer, como justificativa, que tinha em mente dois assuntos distintos: o primeiro, o de que as espécies não ha viam sido criadas separadamente; e o segundo, o de que a seleção natural tinha sido o agente principal das mudanças, embora largamente coadjuvado pêlos efeitos hereditários dos hábitos e claramente pela ação direta das condições ambien tais. Contudo, não tenho sido capaz de neutralizar a influên cia da minha primitiva opinião, então quase universal, de que cada espécie fora criada intencionalmente e isto levou ao tá cito assentimento de que todo particular da estrutura, com exceção dos rudimentos, tivesse uma determinada utilidade, embora desconhecida. Todo aquele que assim pensasse, natu ralmente poderia estender em muito a ação da seleção natural, tanto no passado como no presente. Alguns daqueles que admitem o princípio da evolução, mas rejeitam
aseleção na tural, ao tecerem críticas ao meu livro parecem esquecer que eu tinha pelo menos dois objetivos em mente. Com efeito, se me equivoquei ao atribuir à seleção natural uma excessiva importância, a qual hoje estou bem longe de admitir, ou se lhe exagerei o poder que em si mesmo é provável, pelo menos espero ter prestado um bom serviço, ajudando a pôr por terra o dogma das criações separadas" (p. 77).

"Nos últimos anos os antropólogos — que se dividiram nas duas escolas de monogenistas e poligonistas — muito têm dis cutido a questão se o género humano consiste de uma ou mais espécies. Aqueles que não admitem o princípio da evolução devem considerar as espécies como criações separadas ou, de certo modo, como entidades distintas e devem estabelecer quais formas do homem considerar como espécies pela ana logia de método comumente seguida ao classificar outros se res orgânicos como espécies. Mas é uma tarefa insana decidir sobre este assunto, até que se aceitem algumas definições do termo "espécie" e a definição não deve incluir um elemento indeterminado como um ato de criação" (p .209).

"Quem não se contenta com olhar, como fazem os selvagens, os fenómenos da natureza com um espírito desligado, já não pode mais pensar que o homem seja um ato separado da criação. Ele seria forçado a reconhe cer que a estreita semelhança de um embrião humano com aquele, por exemplo, de um cão — a estrutura do crânio, dos membros e de todo o esqueleto sobre uma base igual àquela dos outros mamíferos, independentemente do uso a que estão destinados — o reaparecimento ocasional de diversas estru turas, por exemplo de alguns músculos, que o homem nor malmente não possui, mas que são comuns aos quadrúmanos — e uma série de fatos análogos — da maneira mais evidente levam todos à conclusão de que o homem, juntamente com os outros mamíferos, descende de um antepassado comum" (p. 698).

"A ideia de um Criador universal e benigno não parece que só surgiu na mente hu mana quando o homem se elevou mediante uma longa cultura. Quem acredita na procedência do homem de alguma for ma inferior organizada, naturalmente perguntará como é que isto tem relação com a crença da imortalidade da alma. Con forme J. Lubbock demonstrou, as raças humanas bárbaras não possuem uma ideia clara desse tipo, mas já viram que os argumentos deduzidos das crenças primitivas dos selvagens são de pouca ou nenhuma utilidade. Alguns indivíduos sen tem-se inquietos diante da impossibilidade de determinar em que momento preciso do desenvolvimento do indivíduo, desde o primeiro vestígio e uma minúscula bexiga germinal, o ho mem se tornou um ente imortal; e haja visto que não deve haver nenhuma causa de maior ansiedade pelo fato de que não é possível determinar este momento na gradual ascensão da escala orgânica.
Estou perfeitamente cônscio do fato de que as conclusões a que chegamos nesta obra serão denunciadas por alguém como sendo bastante irreverentes; mas essa pessoa deverá en tão demonstrar por que razão é um ato irreligioso explicar a origem do homem como espécie distinta mediante a deri vação de alguma forma inferior, por meio das leis da variação e da seleção natural, do que explicar o nascimento do individuo através das leis da reprodução normal. O nascimento, tanto da espécie como do indivíduo, faz igualmente parte da quela grande sequência de eventos, que a nossa mente se recusa a considerar como consequências da cegueira do acaso. O intelecto se rebela diante de tal conclusão de que sejamos capazes ou menos capazes de crer que toda ligeira variação da estrutura — a união de todo casal, a disseminação de todo sémen — e outros acontecimentos semelhantes tenham sido todos dispostos para qualquer fim particular (p. 704-705).

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