O darwinismo medieval

É amplamente conhecida a opressora atuação da Igreja em todos os âmbitos da sociedade durante a longa Idade Média. Em relação, por exemplo, aos intelectuais, sabe-se que eles não deveriam jamais ultrapassar os estreitos limites estabelecidos pelos líderes religiosos, o que poderia culminar numa perigosa acusação de “heresia”. Tudo o que a Igreja decretava como verdade, seja na esfera da fé ou da razão, deveria ser aceito incondicionalmente como sendo realmente a “verdade”. Desta forma, se a Igreja afirmava que o Sol girava em torno da Terra, ainda que houvesse provas contrárias, prevalecia sempre sua arbitrária “verdade”. Todos conhecem o caso do cientista italiano Galileu Galilei que, por apoiar a teoria de Copérnico de que o Sol (e não a terra) constituía-se o centro do nosso sistema planetário, foi preso pela Inquisição, tendo de atenuar suas convicções, visto que não corroboravam com o entendimento oficial da igreja.

Bom. A Inquisição se foi, e com ela seguiu-se a reboque toda a opressão exercida aos que ousam pensar diferente dos dogmas da igreja. Em 1978, o papa João Paulo II declarou: "A Inquisição é um capítulo doloroso do qual os católicos devem se arrepender". E, não obstante a perseguição aos intelectuais ainda persistir entre muitos grupos religiosos ao redor do mundo, nos países democráticos ela já se tornou sombra de um passado que não quer se repetir. Religião e ciência, hoje, excetuando esses grupos religiosos fundamentalistas, convivem pacificamente, com raríssimos confrontos no âmbito ético-moral.

Sendo assim, por que determinadas vertentes consideradas “científicas” ainda hoje sentem tanto temor de que uma “conspiração religiosa” venha aterrar as novas descobertas da ciência, como é o caso de boa parcela dos defensores da Teoria da Evolução, de Charles Darwin?

Pessoalmente desconheço casos semelhantes ao que ocorre no seio do darwinismo. O medo de que a Teoria da Evolução seja banida das pautas escolares transformou-se, para muitos dos devotos de Darwin, numa patológica mania de perseguição, como se a vulnerabilidade científica de seus dogmas afetassem toda a ciência, incluindo a descoberta de cura para a AIDS. Tratam a ciência como fosse um frágil rival da religião, daí todo esse desespero que até parece fugir de uma boa explicação freudiana.

Semelhantemente à Igreja medieval, esses devotos de Darwin não aceitam quaisquer contestações, as quais, na prática, transformaram-se em “perigosas heresias”. Para eles há uma só verdade, a qual deve ser preservada a todo custo. A situação é tal hoje, que qualquer cientista que apresente uma alternativa genuína a seus “dogmas científicos” logo é silenciado, sob o risco de ser mandado ao ostracismo acadêmico, sendo em consequencia disso rotulado dos mais variados adjetivos com conotações religiosas. É o medievalismo às avessas, patologicamente às avessas...

É isso!