A "mão invisível" de Darwin

Segundo o “Aurélio”, capitalismo é um sistema econômico e social baseado na propriedade privada dos meios de produção, na organização da produção visando o lucro e empregando trabalho assalariado, e no funcionamento do sistema de preços.

Discutir se o capitalismo é o pior ou o melhor sistema econômico me parece uma questão irrelevante para o nosso tempo, tendo em vista seu pleno triunfo e levando em conta o histórico fracasso de seu maior rival, o comunismo. A China, em seu modelo atual, é uma das maiores provas da supremacia do dinheiro ou do capital sobre qualquer outra forma de governo. O capitalismo, enfim, prevaleceu!

Em sua obra “Riqueza das Nações" (“a bíblia do capitalismo”) Adam Smith cunhou a expressão “a mão invisível”, com a qual defendeu a idéia do que o mercado, por si mesmo, é capaz de obter a máxima eficiência econômica. O Estado não deve, pois, interferir no mercado, que se auto-regula mediante esta “mão invisível”.

Charles Darwin, que conhecia muito bem a obra de Adam Smith, aproveitou-se dela, mesclando-a com a obra “Tratado sobre os princípios da população”, de Thomas Malthus, na criação do seu dístico “sobrevivência do mais apto”. Sobre isto, escreveram Adrian Desmond e James Moore, em “A vida de um evolucionista atormentado”: “Mas foram as estatísticas de Malthus que mais impressionaram Darwin em sua vida de abundância. Malthus calculava que, sem controle, a humanidade poderia duplicar sua população em apenas 25 anos. Mas não duplicava; se o fizesse, o planeta seria devastado. A luta pelos recursos desacelerava o crescimento e um catálogo horripilante de mortes, doenças, guerras e fome colocavam a população em cheque. / Darwin percebeu que uma luta idêntica ocorria em toda a natureza e compreendeu que essa luta poderia ser transformada em uma força verdadeiramente criativa.”


Esta obra de Malthus foi assim o grande “insight” de Darwin na elaboração de suas idéias sobre Seleção Natural. Isto ele deixa explícito em sua obra “A Origem das Espécies”: “É a doutrina de Malthus aplicada com a mais considerável intensidade a todo o reino animal e vegetal, porque não há nem produção artificial de alimentação, nem restrição ao casamento pela prudência. Posto que algumas espécies se multiplicam hoje mais ou menos rapidamente, não pode ser o mesmo para todas, porque a terra não as poderia comportar
.”

A Seleção Natural seria assim a “mão invisível” que faz da “livre concorrência” (“a sobrevivência do mais apto”) entre os seres vivos a
sua “auto-regulação” na Natureza. Darwin simplesmente transferiu os conceitos de livre concorrência de Adam Smith para o âmbito dos seres vivos. Ele não criou nada de novo, mas apenas adaptou o que, na sua época, era assunto de grande discussão acadêmica. O resto ficou por conta da “mão visível” de seus ideólogos admiradores.

É isso!

---
Referências bibliográficas:
A Vida de um Evolucionista Atormentado: Darwin. Adrian Desmond & James Moore – Geração Editorial. São Paulo, 1995;
A Origem das Espécies: Charles Darwin. Baseado na tradução de Joaquim da Mesquita Paul. LELLO & IRMÃO – EDITORES. Porto, 2003.

Nenhum comentário:

Postar um comentário