Charles Darwin: abolicionista e racista

Um dos argumentos mais comuns utilizados pelos darwinistas para afirmar que Charles Darwin não era racista, refere-se ao fato de ser ele um abolicionista, como se a simples adesão ao abolicionismo fosse indício de ojeriza aos ideais de superioridade racial.

Que Darwin fosse abolicionista, não há nenhuma dúvida quanto a isso. Não somente ele, como todo o resto da Inglaterra era abolicionista. Isso, no entanto, não fora motivo para que os ingleses não se sentissem superiores a outros povos, explorando suas riquezas e destruindo suas vidas.

O argumento de que se utiliza os devotos de Darwin em sua defesa, falha por três razões básicas, a saber:

1. Darwin era um cidadão inglês, e como todo bom inglês vitoriano, era orgulhoso de sua nação. A Inglaterra, como se sabe, era contrária à escravidão, todavia, a sua luta contra o sistema escravocrata não tinha qualquer caráter humanitário.
José Dantas discorre sobre isto em “História do Brasil”:
A luta dos ingleses contra o tráfico de escravos não tinha qualquer caráter humanitário. A Inglaterra preocupava-se primordialmente em defender seus interesses econômicos, pois como nação industrial buscava ampliar o mercado consumidor para seus produtos.
Não foi por outra razão que a Inglaterra aboliu a escravidão em suas colônias do Caribe. Porém, naquele momento, a produção agrícola realizada pelo negro livre revelou-se cara do que a feita em regime de escravidão, tornando os produtos caribenhos competitivos no mercado internacional.
Assim, ao impor a extinção do tráfico de escravos para o Brasil e defender a adoção trabalho livre, a Inglaterra estava preocupada não só em garantir mercados para seus produtos industriais como também em assegurar a competitividade dos produtos agrícolas de suas colônias. Portanto, a decretação Bill Aberdeen em 1845 representou, na verdade, um poderoso instrumento de defesa acumulação capitalista inglesa.”

2. Para muitos abolicionistas, era preciso acabar com a escravidão para modernizar suas nações.
No caso da Inglaterra, o fim da escravidão atrelava-se à emergência da revolução industrial. Escravos não podiam ser consumidores pois não recebiam remuneração. Darwin era um capitalista extremamente ligado à estrutura econômica de sua nação, daí não ser nenhuma novidade sua adesão aos ideais abolicionistas.

3. Em “O que é racismo”, Joel Rufino do Santos, referindo-se aos abolicionistas brasileiros, afirma que, para estes: “era preciso acabar com a escravidão para aliviar o sofrimento dos pobres pretos”. “Ora”, completa o autor: “compaixão pelos pretos é o mesmo que, por exemplo, compaixão pelos pobres macacos, que estejam sofrendo de alguma forma”.


Charles Darwin era um homem dotado de grande sensibilidade pelos seres vivos
em geral. Tanto é verdade que dedicou boa parte de sua vida em pesquisas sobre determinados tipos de crustáceos, entre muitos outros animais. Dessa forma, o fato dele sentir compaixão por aquele escravo que padecia nas mãos do seu senhor, no Brasil, não diz absolutamente nada sobre seus “sentimentos de igualdade racial”. Assim como ele não suportava o sofrimento de um cão, não suportava igualmente o sofrimento de um negro. Se essa assertiva não tivesse lá sua lógica, não escreveria ele, por exemplo, a seguinte "previsão": “No futuro, não muito longínquo, se medido em termos de séculos, num determinado ponto as raças humanas civilizadas terão exterminado e substituído quase por completo as raças selvagens em todo o mundo. No mesmo período os símios antropomorfos, conforme tem observado o prof. Schaaffhausen (18), terão sido sem dúvida exterminados. A fratura entre o homem e os seus mais próximos afins se tornará então ainda mais ampla, visto que será fratura entre o homem, num estágio ainda mais civilizado do que aquele caucásico (é o que esperamos nós) e alguns símios inferiores como o babuíno, ao invés de ser entre o negro ou o australiano e o gorila.”

É isso!

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Referências Bibliográficas:
1. José Dantas: "História do Brasil". Editora Moderna. São Paulo, 1989, p. 135;
2. Charles Darwin: "A Origem do Homem e a Seleção Sexual". Hemus Editora. São Paulo, 1972, p. 187.
3. Joel Rufino dos Santos: "O que é racismo". Editora Brasiliense. São Paulo, 1984, p. 54.

Um comentário:

  1. Acho que o texto está eivado de anacronismo, ou seja, está se julgando um pensador vitoriano de meados do século XIX com os valores do século XXI. No livro do Eduardo Giannetti "Trópicos Utópicos", na página 160, há uma passagem traduzida de uma carta escrita por Darwin á sua irmã Catherine quando estava no Brasil, onde reflete sobre a escravidão e os negros, in verbis:

    "Antes de partir da Inglaterra, diziam-me que depois de viver em países com escravos todas minhas opiniões abolicionistas se modificariam; mas a única alteração da qual estou ciente é a de que formei uma avaliação mais elevada do caráter dos negros. É impossível ver um negro e não sentir simpatia; tão alegres, abertas e francas são suas expressões e tão formosos seus corpos torneados. Nunca pude olhar para um desses diminutivos portugueses, com sua fisionomia criminosa, sem quase desejar que o Brasil siga o exemplo do Haiti(...)"

    Isso é o relato de aluém que acredita numa suposta inferioridade dos negros?

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