Os “Capitães da Areia” sob o olhar do médico Lombroso

Dias atrás terminei a leitura do belíssimo romance “Capitães da Areia”, do escritor baiano Jorge Amado. No posfácio da edição publicada pela Companhia das Letras, Milton Hatoum sintetiza assim a emocionante história dos meninos de rua: “É surpreendente a atualidade dos temas de Capitães da Areia. O assunto e as questões sociais que o livro explora em profundidade são, em larga medida, os mesmos da “cidade da Bahia” e de muitas outras cidades, do Brasil e da América Latina. Lido hoje, este romance ainda comove e faz pensar nas crianças desvalidas, nas crianças de rua, nas crianças abandonadas, quase todas órfãs de pai e mãe, filhos da miséria e do abandono. Atiradas à marginalidade, elas roubam e cometem outros delitos para sobreviver. Detidas, são submetidas à humilhação, ao castigo, à tortura.”

Dos romancistas brasileiros, Jorge Amado sempre foi um dos que menos me atraiu. No entanto, a leitura de “Capitães da Areia” fez avivar em mim um enorme interesse por suas outras obras. “Jubiabá”, por exemplo, já está na “lista de espera”, entre outros.

O livro “Capitães da Areia” narra a história de crianças abandonadas e marginalizadas pela sociedade, as quais para sobreviverem praticam os mais variados tipos de delinquencia. E nessas aventuras nada sociáveis, vez ou outro acontecia de algum deles ser pego pela polícia e conduzido ao temido reformatório de menores delinquentes, onde a lei era “pau no lombo”.

Numa certa ocasião, quando o chefe do grupo Pedro Bala cai nas mãos do terrível diretor do reformatório, este, que havia lido o antropólogo italiano Cesare Lombroso, diz ao bedel, após fitar bem os olhos no garoto:

– É o chefe dos tais de Capitães da Areia. Veja... O tipo do criminoso nato. É verdade que você não leu Lombroso... Mas se lesse, conheceria. Traz todos os estigmas do crime na face. Com esta idade já tem uma cicatriz. Espie os olhos... Não pode ser tratado como um qualquer. Vamos lhe dar honras especiais...

Lembrei-me então do livro “O Homem Delinquente”, do referido antropólogo, um verdadeiro cabedal de preconceito e racismo, mesmo levando em conta a época e o contexto cultural em que fora escrito.

Neste livro, Lombroso tenta provar por meios de traços físicos específicos as características natas de um criminoso. Por exemplo:

OS CABELOS
“Os cabelos negros e os castanhas são maia freqüentes entre os criminosos, enquanto os louros são inferiores de um terço — 13 a 33. O máximo de cabelos negros encontra-se entre os incendiários e os ladrões; o mínimo, entre os violadores. O máximo de castanhos nos é dado pelos desocupados, pelos agressores, pelos ladrões de estradas. Os louros não se encontram em maioria senão entre violadores e escroques. Os ruivos (apesar do que dizem os provérbios) são muito pouco frequentes."

A BARBA
“A raridade ou a ausência da barba já a constatei, entre os criminosos, 23 vezes em 100 (Marro 3,9%) e, entre os alienados, 18 vezes em 100 somente.
Os escroques tinham quase sempre a barba espessa; os ladrões e os agressores, mais rala.
Os menores apresentaram, na proporção de 18%, a barba abundante, o que não se encontra jamais entre os menores normais."

A ÍRIS
"Bertillon, sobre 4.000 criminosos, encontrou 33,2% com a íris de cor marrom; 22,4% de cor castanho escura; 32,4% de cor amarela ou avermelhadas, e 12% despigmentadas ou com reflexos esverdeados (Rev Scient. 1885).
As cifras revelam uma certa frequencia de íris escuras: infelizmente, não dispomos de comparações com os normais.
Observei também, entre os criminosos, una proporção triplicada (0,3) de assimetrias cromáticas da íris, quando comparados aos normais (0,013).”

AS
ORELHAS
"Marro observou que 7,30/, dos criminosos têm as orelhas em abano. Já eu observei tal característica em 38,7%, enquanto que, entre os normais, não encontrei mais que 20%.
O professor Gradenigo estudou o pavilhão aaricular em UMA muito ampla escala.
Os sujeitos observados eram muito numerosos. Em outro exame cuidadoso de 650 pessoas (350 homens, 300 mulheres), passou rapidamente em revista os pavilhões de 25.000 pessoas em Turim (15.000 homens. 10.000 mulheres). Foram examinados 330 alienados (180 homens, 150 mulheres), 76 cretinos (50 homens, 26 mulheres), 352 criminosos típicos (304 homens, 48 mulheres).
Entre as pessoas honestas, as orelhas em abano são, portanto aproximadamente 50% mais freqüentes entre os homens que entre as mulheres; as orelhas de Wildermuth”, ao contrário, são mais freqüentes entre aquelas.
As anomalias da conformação do pavilhão encontram-se, portanto, aproximadamente duas vezes mais frequentes entre os criminosos que entre os adultos honestos de Turim. Quanto ao número de lóbulos aderentes, a exceção que resulta das cifras não é mais que aparente, porque, entre os criminosos, se encontram muito freqüentemente os lóbulos aderentes prolongados ao longo da bochecha, espécie de anomalias mais grave que os lóbulos simplesmente aderentes. De mais, Gradenigo constatou, entre os criminosos, uma freqüência toda particular de orelhas de Darwin, más formações da hélice e da ante-hélice e de assimetrias de implantação, etc. [...]
Isso demonstra que tais anomalias aparecem, em grande número, à direita entre os loucos e os criminosos.
Segundo um estudo de Frigerio.
O ângulo áurico-temporal ultrapassa 90° em condições normais, com cifras de pouco inferiores àquelas constatadas entre os loucos e os criminosos.
A média percentual tende a aumentar do homem são ao alienado e ao criminosos.
Ela é ultrapassada entre os macacos, sobre os quais é, raramente, inferior a 10º . [...]
De acordo com o índice médio da concha, os alienados e os criminosos se sucedem, como segue, em ordem decrescente não hereditários 0,69%; degenerados e violadores 0,67%; ladrões de estradas 0,66%; homicidas 0,65%; ladrões e falsários 0,65%; hereditários 0,64%; incendiários 0,60%."

O NARIZ
"19 criminosos em 500 apresentavam nariz torto à direita ou à esquerda; precisamente a mesma proporção que entre homens normais (3%). Os violadores, 2 sobre 40, apresentam a anomalia e 5 outros tinham nariz com três lóbulos ou excessivamente grossa. Essa deformidade é ainda mais freqüente entre aqueles que apresentam o nariz achatado.
O nariz desmesaradamente longo encontra-se 2 vezes sobre 100, assim Perello, ladrão de Turim, tinha um nariz longo de 4 centímetros.
Ottolenghi estudou, mais em detalhe, a forma do nariz, seu perfil, sua base, seu comprimento, sua protuberância (segundo as regras traçadas por Bertillon), entre 630 normais, 392 criminosos, 40 epilépticos e 10 cretinos.
O criminosos, em geral, apresentam o nariz retilíneo (60,31%), a base horizontal (60,97%), de comprimento médio (48,73%), antes largo (54,14%), muito protuberante (38,53%), freqüentemente desviado (48,13%).
Entre os criminosos, pode-se determinar suficientemente bem o nariz do ladrão e o do violador.
O ladrão apresenta, em grande parte, o nariz retilíneo (40,4%); freqüentemente côncavo (23,329/a); a base levantada (32,13%); frequentemente curto (30,92%); largo (53,28%); achatado (31,33%); e muitas vezes desviado (37,5%).
Os violadores têm, frequentemente, o nariz retilíneo (54,5%); achatado (50%); e desviado (50%); mas de dimensões médias.[...]
Vemos assim que o perfil mais freqüentemente retilíneo e a direção desviada distinguem o nariz do criminoso daquele do normal. O comprimento, a largura e protuberância distinguem suficientemente, entre outras, os diferentes tipos criminais.
O nariz do epiléptico é freqüentemente ondulado (42,8%) e adunco (32,8%); horizontal na base (73,3%); muito longo (74%); muitas vezes bem largo (30%); freqüentemente desviado (25%); quase sempre protuberante (59,94%)."

OS
DENTES
"Em 4% de homicidas, nota-se o desenvolvimento desmensurado dos dentes caninos. Em 7%, os dentes apresentam outras irregularidades, tais corno ausência dos incisivos laterais, sua semelhança com os caninos e a má formação destes ou sua superposição."

A GENITÁLIA
"Encontrei partes genitais anormais em 2% de agressores, 2,6% de escroques, 5% de violadores, 1% de ladrões. Penta, em 15% de grandes criminosos.”

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É isso!

Fonte:
Cesare Lombroso: “O Homem Delinquente”.

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